MP denuncia Bruno Henrique por fraude em competição esportiva

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apresentou denúncia contra o atacante do Flamengo Bruno Henrique por suposta participação em um esquema de apostas. Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) consideraram que o jogador teria combinado a aplicação de um cartão amarelo para beneficiar apostadores.

A denúncia foi protocolada nesta quarta-feira (11/6) e acompanha o pedido de indiciamento feito pela Polícia Federal (PF), que apontou o envolvimento do atleta e de outras nove pessoas pelos crimes de estelionato e fraude em competição esportiva. O caso foi mostrado em primeira mão pelo Metrópoles.

Segundo os promotores, Bruno Henrique trocou mensagens com o irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, afirmando que receberia um cartão amarelo durante a partida entre Flamengo e Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023.

O relatório da PF onde o atleta foi indiciado destacou que essas conversas comprometem diretamente o jogador, ao vinculá-lo a um esquema articulado para favorecer tanto integrantes de sua família quanto um núcleo paralelo de apostadores.

Com a denúncia apresentada pelo Ministério Público, cabe à Justiça decidir se a aceita ou não. Caso a denúncia seja aceita, o atacante passa a responder como réu no processo criminal. Se a Justiça entender pelo arquivamento do caso, o jogador é absolvido da acusação na esfera criminal — no entanto, ele continua sendo alvo de uma investigação no âmbito da Justiça Desportiva.

O Ministério Público analisou todo o material periciado pela PF e concordou com a conclusão dos investigadores de que Bruno Henrique está diretamente envolvido nas irregularidades, logo que o atacante avisou o irmão que iria tomar amarelo. Em uma das mensagens, datada de 29 de agosto de 2023, o irmão do atacante questiona se ele estava “pendurado” na competição, em referência à quantidade de cartões acumulados:

“O tio você está com 2 cartão no brasileiro?”

Em resposta, o atacante escreveu: “Sim”.

Wander segue: “Quando [o] pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk”

Bruno Henrique responde: “Contra o Santos”.

Na sequência, Wander escreve: “Daqui quantas semanas?”

Bruno Henrique: “Olha aí no Google”

Wander: “29 de outubro”, “Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão kkkkkk”

Bruno Henrique: “Não vou reclamar”, “Só se eu entrar forte em alguém”

Wander então responde: “Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso” (veja a troca de mensagens abaixo)

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Conversas Bruno Henrique – Metrópoles

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Conversas Bruno Henrique

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Conversas Bruno Henrique

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Conversas Briuno Henrique

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Conversas Bruno Henrique

R$ 10 mil para entrar no esquema

Em 7 de outubro, investigadores encontraram outra troca de mensagens entre Bruno Henrique e o irmão, nas quais voltam a tratar sobre o recebimento de cartão amarelo no jogo contra o Santos.

Os diálogos mostram que o atacante enviou uma mensagem para Wander, a quem ele chama de “Juninho”:

“O Juninho”,
“Vc consegui fazer transferir Pix no valor alto da sua conta?”

Wander responde:
“Consigo BH”,
“Qual valor?”

BH segue:
“10 conto”

Wander responde:
“Consigo”

As mensagens continuam até que Bruno Henrique informa:
“Vc não pode ser”
“Temos nomes igual”

Na sequência, Wander pergunta:
“Vai da ruim?”,
“O que era?”

BH responde:
“Vai”,
“Negócio de aposta aqui”

Para a PF, o conteúdo sugere que o irmão de Bruno Henrique se interessou pelo suposto esquema. Em seguida, Wander questiona o atacante:

“Uai da essa ideia aí que vou apostar aqui tô precisando de dinheiro kkkkkk”

BH retruca:

“Esse aqui pesado não dá pra vc não”

Wander insiste:

“Se eu ganhar 1 mil reais tá bom se for coisa certa”

Nas mensagens, BH responde que, para entrar no esquema, seria necessário ter R$ 10 mil disponíveis semanalmente:

“Tem que ter 10 k todo final de semana”

Wander então informa que o atacante poderia mandar o dinheiro para a conta de uma terceira pessoa, que repassaria a ele. Mas BH responde que já estaria resolvendo isso, acrescentando que com o irmão “não daria”. Wander encerra:

“Entendi”,
“Carai viu”,
“Meu olho até brilhou”

Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores foi uma mensagem de Wander questionando o irmão se ele poderia “tomar um amarelo hoje”. Os diálogos mostram que o atacante respondeu:

“Dá não, tenho 1 já”

A partida em questão era entre Flamengo e Corinthians, disputada na Neo Química Arena, em São Paulo. Bruno Henrique, de fato, recebeu cartão amarelo na ocasião. Para a PF, isso demonstra que Wander recebia informações privilegiadas sobre quando o jogador tomaria cartões.

As conversas continuam, com um novo trecho em que Wander pergunta:

“Deu certo conseguiu aí”

E BH responde:

“Deu”,
“Lajinha”
“10”

Para a PF, a menção a “Lajinha” indica que essa pessoa teria sido usada por Bruno Henrique no esquema de apostas.

Na sequência, Wander comemora:

“Boa kkkkkk”,
“Só comemorar agora”,
“Tá apostando vitória ou cartão algo assim”

BH responde:

“Não é nada disso não”,
“Parada de cavalo”

Diante disso, os investigadores suspeitam que as mensagens tratem de apostas fraudulentas relacionadas a corridas de cavalo. A tese é reforçada pelo cuidado de Bruno Henrique em não envolver o irmão diretamente, devido ao sobrenome em comum, e também pela fala de Wander:

“Só comemorar agora”

O trecho, segundo a PF, sugere que o resultado da aposta já era conhecido ou garantido. O Metrópoles tenta contato com o jogador.

Ligação nas vésperas do jogo

Segundo a PF, na véspera da partida entre Flamengo e Santos pelo Campeonato Brasileiro de 2023, Bruno Henrique ligou para o irmão para confirmar o cartão amarelo na partida. Após breve troca de mensagens, o atacante do Flamengo liga para Wander, ação que, para a PF, visava avisar que forçaria o cartão.

Conversas Bruno Henrique

Bruno Henrique se tornou alvo da PF após investigações apontarem que o atacante teria forçado um cartão amarelo em jogo contra o Santos válido pelo Campeonato Brasileiro de 2023 para beneficiar apostadores.

A investigação teve início após levantamento feito pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 31 de julho de 2024.

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Atacante é suspeito de forçar um cartão amarelo

Gilvan de Souza/CRF

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Jogador do Flamengo foi indiciado por estelionato e fraude em competições esportivas

Paula Reis/CRF

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Mais 10 pessoas foram indiciadas, além do atacante

Paula Reis/CRF

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Bruno Henrique foi indiciado pela Polícia Federal

Gilvan de Souza/CRF

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O título da Supercopa de 2025 coroou o atacante como o jogador com mais títulos na história do Rubro-Negro

Gilvan de Souza/CRF

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Flamengo vem de goleada sobre o Juventude

Paula Reis/CRF

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Bruno é suspeito de ter levado cartão amarelo de propósito

Vinícius Schmidt/Metrópoles

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Bruno ajudou o Flamengo a conquistar a Libertadores

Vinícius Schmidt/Metrópoles

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Segundo a PF, pessoas da sua família teriam se beneficiado

Igo Estrela/Metrópoles @igoestrela

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De acordo com o MPDFT, Bruno Henrique supostamente buscou, de forma deliberada, ser punido pelo árbitro com cartões durante partida entre o Flamengo e o Santos

Igo Estrela/Metrópoles @igoestrela

A análise foi motivada por um alerta da International Betting Integrity Association (IBIA) sobre possíveis irregularidades na partida contra o Santos, realizada em 1º de novembro de 2023.

Os relatórios da CBF apresentados à PF explicavam que algumas apostas atípicas foram feitas na Kaizen Gaming por usuários novos e antigos, muitas delas registradas em Belo Horizonte (MG), cidade natal de Bruno Henrique.

Apesar de o atacante não ter antecedentes na manipulação de jogos, a CBF afirma que as apostas feitas pelos usuários, junto ao comportamento de Bruno – que foi punido com dois cartões de advertência nesse duelo, um amarelo por falta contra um atleta do Santos e um cartão vermelho por ofender o árbitro da partida –, causaram estranhamento e geraram o alerta da IBIA.